Indústria e Tecnologia

Fabricantes apostam no boom da aviação na Ásia-Pacífico

Na 69ª Assembleia de Presidentes da Association of Asia Pacific Airlines, em Banguecoque, realizada de 14 a 16 de novembro de 2025, os principais fabricantes de aeronaves apresentaram suas previsões para aquilo que chamam de a maior oportunidade de crescimento da indústria em anos.

Boeing, Airbus e Embraer apresentaram planos ambiciosos para o que se configura como a história de crescimento mais dramática da aviação nas próximas duas décadas.

Os números discutidos apontam para um crescimento impressionante na região Ásia-Pacífico (APAC): dezenas de milhares de novas aeronaves necessárias, trilhões em valor econômico e taxas de crescimento que eclipsam todas as outras regiões.

No entanto, os fabricantes que apresentam essas previsões otimistas são os mesmos que atualmente estão com entregas atrasadas por meses ou até anos. Acrescentar dezenas de milhares de pedidos a linhas de produção já sobrecarregadas não vai facilitar a situação.

Boeing: apostando no crescimento de 7% do Sudeste Asiático

Dave Schulte, Diretor de Marketing para APAC da Boeing, enfatizou o enorme potencial do Sudeste Asiático, estimando que a região precisa de 4,885 novas aeronaves nos próximos 20 anos, divididas entre 3,975 jatos de corredor único e 910 fuselagens largas.

“Prevemos um crescimento anual de 7% — o mais rápido do mundo ao lado do Sul da Ásia”, explicou Schulte, observando que a classe média da região dobrou em 25 anos e atualmente não demonstra sinais de desaceleração.

Mas a Boeing enfrenta um desafio que admite abertamente: um déficit global de 1.500 aeronaves que já deveriam ter sido entregues, mas não foram. “As companhias aéreas costumavam planejar com cinco ou seis anos de antecedência. Agora elas têm que planejar 10, até 15 anos à frente”, observou Schulte, destacando como a escassez de oferta está remodelando o setor.

A empresa está apostando em sua família 737 MAX, afirmando que um deles decola ou pousa a cada 12-13 segundos em todo o mundo. Recentemente, foram assegurados novos pedidos da ANA (18 aeronaves), Malaysia Airlines (60) e Japan Airlines (50). 

Airbus: apostando na classe média de um bilhão da APAC

O presidente da Airbus para APAC, Anand Stanley, apresentou números ainda maiores, prevendo quase 20,000 novos aviões de passageiros necessários em toda a ampla região Ásia-Pacífico, representando 46% da demanda global.

“Tudo isso acaba fazendo da Ásia-Pacífico uma das histórias comerciais e econômicas de maior sucesso, um dos maiores mercados consumidores do mundo”, afirmou Stanley, apontando para um crescimento do PIB de 3,4% ao ano e uma classe média em expansão de um bilhão de pessoas.

O fabricante europeu projeta demanda por 16,000 aeronaves de corredor único e 3,480 fuselagens largas, com a região já operando a maior frota de fuselagens largas do mundo, com 900 unidades. 

Stanley enfatizou a sustentabilidade como um diferenciador chave, observando que as novas aeronaves da Airbus oferecem 25% melhor eficiência de combustível, com a empresa trabalhando rumo à capacidade de operar com 100% de combustível de aviação sustentável.

Entre as conquistas recentes estão o A350-1000 da Qantas para o Project Sunrise, os voos comerciais mais longos do mundo, além de novos clientes asiáticos como EVA Air e Korean Air aderindo ao programa A350.

Embraer: construindo um negócio de US$10 bilhões no mercado regional da APAC

Enquanto Boeing e Airbus disputam pedidos de jatos grandes, o CEO da Embraer, Arjan Meijer, vê uma oportunidade enorme no segmento regional. O fabricante brasileiro prevê que APAC e China precisarão de 3,390 aeronaves na categoria de até 150 assentos, o maior requisito regional globalmente.

“Esperamos crescer para uma empresa de US$10 bilhões até o final da década”, revelou Meijer, à luz de um backlog comercial de US$50,2 bilhões.

A estratégia da Embraer mira três oportunidades específicas: penetrar carriers de baixo custo sensíveis a custo com a economia aprimorada do E195-E2; substituir os 800 turboélices envelhecidos da Ásia (37% da frota global); e ampliar a conectividade de hubs para grandes companhias. A empresa já conquistou vitórias com Virgin Australia, All Nippon Airways e LATAM, levando os compromissos com o E2 além de 250 aeronaves.

Diferentemente de suas rivais maiores, a Embraer está construindo infraestrutura do zero, estabelecendo simuladores em Singapura, além de armazéns com US$100 milhões em peças e parcerias estratégicas pela região. “A Ásia-Pacífico não é um mercado foco por acaso”, enfatizou Meijer.

Checagem de realidade: pedidos não voam, aeronaves sim

Todos os três fabricantes de aeronaves estão, essencialmente, apostando o futuro na mesma previsão: a Ásia-Pacífico é onde a ação da indústria estará pelos próximos 20 anos. 

No entanto, as empresas já estão atrasadas. A Boeing admite que está com um déficit de 1.500 aeronaves em relação ao que deveria haver, as companhias aéreas estão correndo para garantir slots com uma década de antecedência e os problemas na cadeia de suprimentos permanecem.

As empresas que vencerem aqui não serão apenas as que tiverem os melhores aviões ou os maiores livros de pedidos. Serão aquelas que conseguirem, de fato, entregar aeronaves no prazo enquanto mantêm as redes de suporte local funcionando sem problemas.

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