Com cabine dividida em cinco ambientes, alcance superior a 7.500 milhas náuticas e tecnologia de ponta, o Global 7500 firmou a posição da Bombardier entre os principais nomes da aviação executiva
Há quase dez anos, a Bombardier optou por concentrar suas atividades apenas nos segmentos de aviação executiva e defesa, encerrando suas demais operações aeronáuticas. Como parte dessa reestruturação, o portfólio foi reduzido a dois produtos principais: o jato médio Challenger e a família Global, que passou por uma completa revisão de projeto e estratégia.
A meta era criar uma família de jatos de cabine ampla, com alcances longos e ultralongos, capaz de redefinir a categoria e colocar a Bombardier à frente de concorrentes, em especial a Gulfstream, então líder em entregas. Inicialmente, a linha contemplava três modelos: Global 6000, Global 7000 e Global 8000.
Depois de ajustes no projeto e no posicionamento de mercado, o Global 7000 foi relançado como Global 7500. Além do reposicionamento comercial, o programa incorporou mudanças significativas, como janelas maiores, alcance superior a 7.500 milhas náuticas e a possibilidade de configurar cinco ambientes na cabine, inclusive com suíte equipada com chuveiro.
A princípio, esses atributos não soam revolucionários — o Gulfstream G650, por exemplo, já oferecia 7.000 milhas náuticas de alcance, janelas panorâmicas de 71 por 52 centímetros e opção de suíte. No entanto, ao propor cinco zonas distintas na cabine, o Global 7500 elevou o conceito de viagem a outro patamar.
Sem a ambição declarada de transformar o mercado, a Bombardier buscou um desenho inovador que colocasse o Global 7500 entre os concorrentes de destaque. Embora a empresa não tenha divulgado explicitamente sua estratégia, adotou táticas semelhantes às da Gulfstream, estabelecendo uma sequência de recordes — especialmente de velocidade entre cidades — para promover o programa.
Janelas amplas
Além de aumentar a visibilidade e a entrada de luz natural, as janelas maiores — cerca de 80% maiores que as da geração anterior — deram ao Global 7500 uma identidade visual marcante, destacando-o em solo e evidenciando sua evolução em relação aos veteranos Global Express e XRS.
As asas também foram aprimoradas. Apesar de manterem praticamente o mesmo ângulo de enflechamento de 35,3 graus medido na linha do quarto de corda em relação aos modelos anteriores, adotaram uma razão de corda mais fina, o que reduz o arrasto e melhora o desempenho aerodinâmico. Os flaps Fowler, de acionamento em duas fases, aumentaram em até 30% a eficiência em baixas velocidades, e os winglets redesenhados mostraram-se mais eficazes, especialmente em trechos curtos e médios.

O Global 7500 foi concebido com cinco zonas de cabine e um arranjo interno otimizado. No lançamento, oferecia combinações de layout superiores às de qualquer outro jato da categoria. À primeira vista, a diferença entre quatro e cinco zonas pode parecer pequena diante dos 40,47 metros quadrados de cabine, mas o impacto foi grande — a ponto de motivar a resposta da Gulfstream com o G700 e o avanço da Dassault com o Falcon 10X.
A cabine pode ser organizada como sala de reuniões, sala de jantar, escritório, entre outras disposições. Essa versatilidade permite inúmeras combinações, desde configurações habituais para operações corporativas — especialmente em empresas de fretamento — até arranjos que lembram suítes presidenciais de hotéis de luxo.
Um destaque do lançamento foi a suíte com chuveiro, que ampliou muito o nível de comodidade a bordo. Embora seja um opcional com limitações — como a exigência de um tanque de água pesado, que pode reduzir a lotação ou o alcance da aeronave —, trata-se de uma solução prática para clientes com agendas muito apertadas: é possível pousar, tomar banho e seguir direto para compromissos, voltando ao avião e decolando em seguida, sem a necessidade de deslocamento até um hotel.

No quesito conforto, a Bombardier reformulou os assentos sob o conceito Nuage (nuvem, em francês), tornando-os mais amplos e com reclinação total, com foco especial na ergonomia. O desenho acompanha as curvas naturais do corpo, permitindo longos períodos sentado com conforto e suporte anatômico. Ao serem convertidas em camas, as poltronas oferecem espaço e configuração ideais para descanso.
O entretenimento a bordo também se destaca, com telas individuais em 4K capazes de reproduzir conteúdo via streaming, suportado por conexão Banda Ka. Além disso, funções como iluminação, volume, abertura das persianas e controle de temperatura podem ser gerenciadas por dispositivos pessoais — como smartphones e tablets — ou pelos painéis e pela central na galley. Há ainda comandos de iluminação individuais nas laterais dos assentos.
Cockpit

O amplo espaço da cabine de passageiros reflete-se também no cockpit, um dos maiores da categoria, que inclui até um jump seat fixo no lado esquerdo. A suíte de aviônicos emprega a versão mais recente do Bombardier Vision e integra um sistema fly-by-wire com a lei de controle CU, similar à utilizada no Airbus A220 e no Boeing 787.
O termo CU refere-se a uma lei de controle em que “C” combina a taxa de arfagem (pitch rate) com feedback de força g, enquanto “U” indica uma função que ajusta automaticamente a arfagem para restabelecer a velocidade de trim de referência. Em termos práticos, o sistema governa a aeronave por meio do controle do eixo de arfagem. Outra inovação são os sidesticks semiativos: os controles laterais, direito e esquerdo, não são eletrônica ou mecanicamente conectados, sendo separados por uma resistência de mola aumentada. Isso permite que o sistema entregue sinais táteis — por meio de detentes suaves e mais firmes (soft e hard detents) — e facilite a transferência de autoridade entre os pilotos.

Como é padrão na categoria, o Global 7500 traz tecnologias Enhanced e Synthetic Vision (EVS/SVS), mapas móveis, visualização vertical de condições meteorológicas e detecção preditiva de windshear, além de ADS-B In. Entre as inovações do lançamento estão o autothrottle em operações monomotoras, checklists inteligentes com detecção automática e a sintonia simplificada de rádios, que permite selecionar uma frequência diretamente no mapa do aeroporto com um único clique.
O Global 7500 e o futuro Global 8000, ambos desenvolvidos sobre a mesma plataforma, consolidaram a presença da Bombardier no segmento de jatos executivos de cabine larga e ultralongas distâncias. A reação da Gulfstream e da Dassault Falcon confirma o sucesso do projeto que, apesar de alguns atrasos — especialmente no caso do Global 8000 —, permitiu à Bombardier concentrar-se no segmento mais lucrativo da aviação executiva, firmando sua posição entre os líderes de mercado.






