A edição de 2025 consolida a recuperação do setor, marca o retorno da Gulfstream, destaca os avanços da Bombardier e da Textron e reforça projeções otimistas para a próxima década
Em uma edição marcada por estreias e pela consolidação de um processo de reinvenção, a NBAA-BACE 2025 voltou a se realizar em Las Vegas, reafirmando a vitalidade da aviação executiva e apontando cenários positivos para o futuro. A indústria segue em transformação estrutural, alinhada ao comportamento dos grandes salões internacionais de aviação, tecnologia e automóvel.
A crise sanitária de 2020 gerou um paradoxo: aumentou a demanda por voos privados ao mesmo tempo em que a indústria enfrentou falta de insumos e de mão de obra. Gargalos produtivos e limitações logísticas tornaram pilotos, mecânicos e técnicos tão escassos quanto metais raros. Simultaneamente, o avanço digital alterou a relação entre fabricantes e clientes — hoje é possível visitar virtualmente cabines de jatos executivos e interagir com fabricantes em tempo real. Ainda assim, eventos presenciais mostram-se insubstituíveis, e feiras como NBAA-BACE, AirVenture, Farnborough e Paris Air Show continuam em expansão.
Em 2025, a NBAA registrou o retorno da Gulfstream após dois anos de ausência, com dois lançamentos, enquanto Dassault Falcon e Embraer estiveram ausentes. A Bombardier confirmou ganhos do Global 8000, apontado como o subsônico mais rápido do mundo, com Mach 0,85.
Perspectivas de mercado
As projeções da Global Jet Capital e da Honeywell Aerospace Technologies reforçam uma tendência de crescimento sustentado até o fim da década, impulsionada pela retomada das viagens internacionais, por carteiras históricas de pedidos e pela expansão de modelos de acesso à aviação executiva. Os jatos pesados e de longo alcance devem permanecer na liderança do mercado — reflexo da maturidade tecnológica e financeira do setor.
No relatório Business Jet Market Outlook 2025–2029, a Global Jet Capital estima um crescimento de 8,3% no volume total de transações em 2025, com expansão média anual de 3,9% até 2029. O valor agregado das vendas de aeronaves novas e usadas deve chegar a US$ 206 bilhões no período, sendo US$ 109 bilhões referentes ao mercado de novos e US$ 97 bilhões ao de usados.
As entregas de aeronaves novas devem subir 4,4% em 2025 e manter uma média de crescimento anual de 2,7%, enquanto o mercado de usados projeta avanço de 4,2% em unidades e 3,4% em valor. Os jatos pesados continuarão como principal motor do setor: as entregas nessa categoria devem crescer 5,3% ao ano, e as transações de usados, 6,1%. Essa preferência decorre do maior alcance, capacidade e conforto de cabine — atributos reforçados pela retomada das viagens internacionais e pela chegada de novos modelos certificados.
O relatório aponta ainda que os backlogs dos OEM — as carteiras de pedidos — estão 62% acima dos níveis de 2019 e 7,4% superiores aos de 2023, sinalizando demanda firme e o recurso a aeronaves usadas para atender necessidades imediatas.
O estudo da Global Jet Capital confirma a América do Norte como o principal polo global da aviação executiva, respondendo por 73,8% das transações. A América Latina surge como o segundo maior mercado, com 11,3% do total — 88% dessas operações relacionadas a aeronaves usadas —, seguida pela Europa (8,4%). Ásia-Pacífico e Oriente Médio/África fecham o mapa, com participação combinada próxima de 6%.
No plano operacional, o número de partidas cresceu 2,8% em 2025 em relação ao ano anterior, sinalizando retorno ao padrão de crescimento sustentável observado antes da pandemia. A previsão é de que a combinação de crescimento econômico global (estimado em 2,6% ao ano pela Oxford Economics) e maior confiança do usuário corporativo mantenha a expansão até 2029.
A Honeywell Aerospace Technologies reforça visão semelhante em seu 2025 Global Business Aviation Outlook, porém com horizonte mais amplo — 2025 a 2034. A empresa prevê 8.500 novas aeronaves avaliadas em US$ 283 bilhões, com 740 entregas em 2025 e crescimento médio anual de 3% em entregas e investimentos. A América do Norte também lidera nas projeções da Honeywell, com 71% das entregas globais em 2025, seguida pela Europa (14%), América Latina (7%), Ásia-Pacífico (5%) e Oriente Médio e África (3%).
Entre os compradores, a distribuição por unidade é quase equilibrada entre jatos pequenos, médios e grandes, mas os jatos pesados representam 65% do valor total das aquisições. O relatório salienta ainda que 20% dos operadores já têm pedidos firmes, 46% planejam ampliar suas frotas e 67% pretendem substituir aeronaves existentes, o que deve estimular o mercado de usados nos próximos anos.
Propriedade fracionada e sustentabilidade
Dois vetores se consolidam como forças transformadoras. O primeiro é a propriedade fracionada, cuja frota mundial cresceu 65% desde 2019, com maior adesão de operadores corporativos e privados que buscam otimizar capacidade e custos. O segundo é o avanço de iniciativas ambientais: 81% dos operadores apontam aeronaves e motores mais eficientes como principal meio de reduzir emissões, enquanto 60% já utilizam SAF (combustível de aviação sustentável) ou adotam medidas de economia de combustível.
Essas tendências mostram um mercado que evolui não apenas em volume, mas em maturidade. Enquanto a Honeywell ressalta inovação tecnológica e sustentabilidade, a Global Jet Capital enfatiza fundamentos econômicos e solidez da demanda. Em conjunto, os relatórios apontam para crescimento consistente, com foco em eficiência, alcance e renovação de frotas — combinação que tende a consolidar os jatos de longo alcance como o eixo central da aviação executiva na segunda metade da década.
Bombardier
Com apresentação do Cirque du Soleil, a Bombardier evidenciou os avanços do Global 8000, que alcançou Mach 0,95, posicionando-se como o mais rápido entre os subsônicos. O ganho traduz-se em até 40 minutos a menos na rota Nova York–Londres. O programa já havia superado Mach 1 em testes de 2021. A fabricante também destacou atuação militar: a Bombardier Defense e a SNC assinaram contrato de dez anos para suporte logístico de dois Global 6500 equipados com tecnologia RAPCON-X, empregados em missões A-ISR.
Cirrus
A Cirrus incorporou ao SR G7+ a tecnologia Safe Return Emergency Autoland, permitindo pouso autônomo com o toque de um botão — complementando o conhecido paraquedas balístico. A marca comemorou a entrega do Vision Jet número 700, dez anos após a primeira unidade, consolidando-o como líder entre os Very Light Jets, com média anual de 70 aeronaves. No primeiro semestre de 2025 foram entregues 45 unidades, segundo a GAMA.
Daher

Na feira, a Daher confirmou a criação de sua operação própria no Brasil, com sede em São Paulo, ampliando a presença na América Latina. O país é um dos mercados-chave para a família TBM e apresenta forte potencial para o Kodiak, impulsionado pelo agronegócio. Nicolas Chabbert, CEO da divisão de aeronaves, anunciou Paulo César Olenscki como CEO local e Rodrigo Cendon como diretor de relacionamento com o cliente. A empresa também amplia sua rede de suporte nos EUA, com novas bases no Alasca, Illinois e Carolina do Norte.
Gulfstream

De volta à NBAA-BACE, a Gulfstream trouxe sua maior exposição estática, apresentando a linha completa — G300 (mockup), G400, G500, G600, G700 e G800. O destaque foi o novo G300, sucessor do G280, com cabine alongada para até dez passageiros, dez janelas panorâmicas e tecnologias vindas das séries superiores. O G400, mostrado após o primeiro voo, oferece alcance de 4.200 milhas náuticas e o cockpit Symmetry Flight Deck. A empresa informou também que sua frota corporativa e de demonstração já ultrapassou 3 milhões de milhas voadas com SAF, reafirmando sua liderança tecnológica e ambiental.
Piper
Com participação discreta, a Piper ressaltou o M700 Fury, seu turboélice de alto desempenho, e reforçou iniciativas em formação de pilotos. A fabricante firmou contrato de até 188 aeronaves com a University of North Dakota, avaliado em US$ 155 milhões, e ampliou parceria com a Skyborne Airline Academy, primeira escola a encomendar o Seminole DX bimotor diesel — 35% mais econômico e compatível com SAF.
Pilatus

A Pilatus promoveu o PC-12 PRO, versão avançada do monomotor turboélice, agora equipada com suíte Garmin G3000 e cockpit ACE personalizado. O modelo traz três telas de alta resolução, visão sintética 3D, autothrottle, radar meteorológico de nova geração e integração digital do motor PT6 via sistema EPECS. O PC-24 recebeu atualizações de sistemas e interiores. O fabricante anunciou ainda a entrega de um PC-12 às Forças Armadas da Alemanha para missões de treinamento e transporte, reforçando sua atuação no segmento militar europeu.
Otto Aerospace
A Otto chamou atenção ao exibir o mockup do Phantom 3500, jato leve de nova geração com design futurista e sem janelas — substituídas por painéis internos 4K que exibem imagens externas. O modelo, com alcance de 3.200 milhas, teto de 51 mil pés e motores Williams FJ44-4, deverá voar em 2027 e buscar certificação em 2030. A Flexjet encomendou 300 unidades, garantindo o financiamento do programa. Segundo o CEO Paul Touw, o Phantom 3500 inaugura “um novo capítulo em inovação, eficiência e sustentabilidade”.
Textron Aviation

A Textron exibiu todo o portfólio Citation e destacou o Citation Ascend, evolução da série 560XL, com suíte Garmin G5000, piso plano, janelas ampliadas e sistema de cabine sem fio. O evento também marcou a certificação dos Citation CJ3 Gen2 e M2 Gen2 com autothrottle, novos assentos, iluminação RGB e lavatório com claraboia natural. O Longitude passa a oferecer internet via Starlink, tornando-se o primeiro modelo da linha com cobertura global, e as etiquetas Sensos Smart Labels permitem rastreamento em tempo real de peças.
A fabricante e a NBAA confirmaram o compromisso social do setor ao apoiar o Special Olympics Airlift 2026, que transportará atletas de todo os EUA para os Jogos Olímpicos Especiais de Minnesota — programa que, desde 1987, já levou mais de 10 mil participantes.






