Aviação Militar

Portugal reavalia F-35; Airbus propõe Eurofighter para substituir F-16

À medida que Portugal reavalia os planos para adquirir o F‑35, a Airbus prepara‑se agora para oferecer o Eurofighter Typhoon como substituto da envelhecida frota de F‑16.

A Airbus Defence and Space anunciou em 27 de outubro de 2025 que assinou um Memorando de Entendimento (MoU) com o Cluster Português para Indústrias de Aeronáutica, Espaço e Defesa (AED Cluster Portugal) para identificar oportunidades de cooperação antes da próxima substituição da frota de caças no país. No início deste ano, Portugal afirmou que estava a reconsiderar os seus planos de adquirir o F‑35 Lightning II.

No entanto, o país continua a precisar de substituir a sua envelhecida frota de F‑16 Fighting Falcon. Segundo o World Air Forces 2025 da FlightGlobal, Portugal tem um total de 25 F‑16 em serviço, dos quais quatro são de dois lugares, com pelo menos 30 anos de serviço.

De acordo com a Airbus, no âmbito deste acordo foi lançada a base para iniciar uma série de estudos com o objetivo de criar uma proposta industrial valiosa para substituir a atual frota portuguesa de F‑16 pelo Eurofighter Typhoon. Os detalhes ainda são desconhecidos; no entanto, Portugal já tinha cerca de €5,5 mil milhões alocados para a substituição, sendo o plano original a aquisição de 27 F‑35.

Dilema do F‑35

Numa entrevista ao órgão de comunicação social português Público publicada em 13 de março de 2025, o ministro da Defesa português Nuno Melo afastou a possibilidade de encomendar o caça de quinta geração, alinhando‑se com outras nações europeias que estão a reconsiderar as suas estratégias de aquisição de defesa. O ministro apontou diretamente a incerteza em torno da administração Trump como um fator chave na decisão.

Os comentários seguiram‑se às declarações controversas de Trump sobre a NATO após assumir o cargo, questionando as contribuições dos Estados‑membros e sugerindo mesmo que os EUA poderiam não cumprir os seus compromissos de defesa, o que suscitou apreensão por toda a Europa. Entre as principais preocupações, o ministro mencionou a previsibilidade dos aliados e “limitações no uso, manutenção, componentes e tudo o que tem a ver com garantir que as aeronaves estarão operacionais e serão utilizadas em todos os tipos de cenários.”

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O 500.º caça F‑35A Lightning II produzido pela Lockheed Martin para a Força Aérea dos EUA chega à Jacksonville Air National Guard Base, Flórida, a 9 de julho de 2025. (foto da Guarda Aérea Nacional dos EUA por Staff Sgt. Jacob Hancock)

Por causa disso, o ministro acrescentou: “Existem várias opções que devem ser consideradas, particularmente no contexto da produção europeia e também tendo em conta o retorno que essas opções podem ter para a economia portuguesa.” Tal comentário sugeriu uma possível avaliação de um substituto fabricado na Europa.

Proposta do Eurofighter

O MoU entre a Airbus e o AED Cluster Portugal está a abrir caminho para a apresentação do Eurofighter Typhoon à Força Aérea Portuguesa. A Airbus tem uma boa cooperação com Portugal e detém 46% do capital do consórcio Eurofighter, representando tanto a Alemanha como Espanha.

“Num momento em que a soberania europeia e a autonomia industrial estão no centro da nossa estratégia, a Airbus acredita firmemente que o Eurofighter é a melhor opção para esta substituição”, afirma Jose Luis de Miguel Cortes, Chefe para a Europa na Airbus Defence and Space.

O Eurofighter Typhoon é o maior programa de defesa europeu em termos unitários, com 780 aeronaves encomendadas por dez nações e 600 já em serviço. A Turquia tornou‑se o cliente mais recente, assinando um acordo para adquirir 20 aeronaves a 27 de outubro, enquanto muitos dos países parceiros estão a adquirir novos lotes do caça.

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Um Eurofighter F‑2000A Typhoon italiano. (Crédito da imagem: Stefano D’Urso/The Aviationist)

Os Typhoon propostos a Portugal viriam, muito provavelmente, na mesma configuração que Itália, Alemanha e Espanha estão atualmente a adquirir. Isto inclui o novo radar europeu ECRS Mk 1 AESA (Active Electronically Scanned Array) e a configuração Phase 4 Enhancement (P4E).

O P4E inclui vários desenvolvimentos novos, incluindo uma capacidade automatizada de gestão de sensores para todos os radares do Typhoon, permitindo explorar as capacidades do novo radar AESA para executar múltiplas tarefas simultâneas, ao mesmo tempo que reduz a carga de trabalho do piloto. O pacote também deverá incluir uma interface de cabine melhorada e uma interoperabilidade de radiofrequência (RFIO) reforçada, o que melhorará a sobrevivência e a letalidade, bem como atualizações do DASS (Defensive Aids Sub‑System).

O Plano Original

Numa longa entrevista ao jornal português Diário de Notícias publicada a 12 de abril de 2024, o Chefe do Estado‑Maior da Força Aérea Portuguesa, General João Cartaxo Alves, confirmou o plano da Força Aérea Portuguesa de substituir os F‑16 pelo Lockheed Martin F‑35 Lightning II, afirmando que a transição já tinha começado.

O Gen. Cartaxo Alves declarou que a decisão visava alinhar‑se com a maioria dos aliados europeus que já começaram a transição para o F‑35, como parte dos seus esforços estratégicos. Importa referir que a aquisição do F‑35 por Portugal tem sido sempre algo controversa.

F-35 a desdobrar em Porto RicoF-35s Deploy Puerto Rico
Um F‑35A Lightning II da Força Aérea dos EUA, atribuído ao 422nd Test and Evaluation Squadron (TES), descola para uma missão a partir da Nellis Air Force Base, Nevada, a 26 de agosto de 2025. (foto da Força Aérea dos EUA por Airman 1st Class Heather Amador)

Em abril de 2024, o Chefe do Estado‑Maior da Força Aérea, General João Cartaxo Alves, confirmou que o serviço estava numa fase de “transição” em direção ao caça furtivo, espelhando decisões tomadas por vários parceiros da NATO. O Chefe da Força Aérea Portuguesa acrescentou ainda que a transição para uma nova aeronave de combate se estenderia por aproximadamente duas décadas, com um custo estimado de 5,5 mil milhões de euros alocado para este programa.

As declarações de Cartaxo Alves também deram que falar em 2023: numa conferência militar sobre transporte aéreo e reabastecimento em Lisboa, o Chefe do Estado‑Maior da Força Aérea reconheceu publicamente que o caça de 5.ª geração da Lockheed Martin era um substituto adequado para a envelhecida frota de F‑16 do país. No entanto, o entusiasmo foi rapidamente moderado pelo governo.

O Ministério da Defesa português não tardou a clarificar que não existia nenhum processo formal de aquisição em curso. “Isto é uma visão para o futuro, pelo que, atualmente, não existe processo de compra de aeronaves para substituir os F‑16”, disse a porta‑voz do Ministério da Defesa Helena Carreiras numa declaração ao Breaking Defense.

Avançando para março de 2025, com o F‑35 aparentemente fora da mesa, o próximo passo de Portugal permanece incerto. Quando questionado sobre a possibilidade de adquirir o Dassault Rafale, Melo recusou‑se a comentar.

Entretanto, em junho de 2025, a Lockheed Martin e o AED Cluster Portugal assinaram um MoU para identificar potenciais empresas portuguesas para futuras atividades industriais. “Esta parceria pretende integrar empresas locais na produção, investigação, desenvolvimento, manutenção e formação para o caça furtivo mais avançado do mundo”, disse na altura a Embaixada dos EUA em Portugal.

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