O Pentágono teria aprovado planos para o caça furtivo embarcado de próxima geração da Marinha dos EUA, abrindo caminho para que o serviço selecione entre a Boeing e a Northrop Grumman o desenvolvimento do jato conhecido como F/A-XX. O novo caça substituirá a envelhecida frota da Marinha de F/A-18E/F Super Hornets, que estão em serviço há décadas.
O secretário de Defesa Pete Hegseth aprovou pessoalmente o avanço do programa na semana passada, disseram autoridades dos EUA à Reuters. A Marinha pode anunciar sua escolha do vencedor do programa já nesta semana, marcando a culminação de anos de trabalho de projeto no âmbito da iniciativa Next Generation Air Dominance (NGAD) do serviço.
O F/A-XX será o primeiro projeto de caça “partindo do zero” da Marinha em mais de 30 anos. Destina-se a operar a partir de porta-aviões com capacidade furtiva, maior alcance e tecnologia avançada de rede que permitirá realizar missões ao lado de aeronaves não tripuladas e sensores. A aeronave é vista como central para manter a superioridade aérea dos EUA no Pacífico, em meio à expansão do alcance militar da China.
Boeing vs. Northrop
A Boeing e a Northrop Grumman são as únicas concorrentes ainda na disputa, e ambas podem apresentar argumentos sólidos sobre por que a Marinha deveria escolher seu projeto. A proposta da Boeing, segundo relatos, baseia-se em sua longa experiência na produção de caças embarcados, enquanto o conceito da Northrop, revelado em uma renderização de agosto, enfatiza um desenho elegante e sem cauda que remete ao seu anterior protótipo furtivo YF-23.
O projeto vencedor integrará a família mais ampla de sistemas NGAD da Marinha, que também incluirá drones e novas armas. Embora os detalhes permaneçam classificados, espera-se que o F/A-XX apresente motores adaptativos, aviônicos de arquitetura aberta e a capacidade de compartilhar dados com outras plataformas em tempo real.
A vantagem da Boeing reside em parte em seu status de incumbente. A empresa já fabrica o Super Hornet e o EA-18G Growler em sua fábrica em St. Louis, Missouri, e dispõe das ferramentas e da força de trabalho necessárias para fazer a transição de forma tranquila para a produção do F/A-XX. Selecionar a Boeing também ajudaria a sustentar a base industrial de aviões de combate do país, que o Pentágono tem buscado preservar enquanto a Lockheed Martin domina os programas da Força Aérea com o F-35.
A Northrop Grumman, por sua vez, traz expertise incomparável em furtividade e sistemas. A empresa projetou o B-2 Spirit e está produzindo o novo B-21 Raider, ambos conhecidos por sua baixa observabilidade. Seu conceito para o F/A-XX sugere um foco em alcance de ataque profundo e sobrevivência, com uma entrada de ar montada no topo para reduzir a assinatura de radar e um compartimento interno de armamentos para manter a furtividade.
Política e produção
Analistas da indústria observam que adjudicar o contrato à Boeing efetivamente salvaria a linha de caças da empresa em St. Louis, que enfrenta uma lacuna de produção após o término do programa de aquisição do Super Hornet em 2027. A Marinha poderia ver valor em manter essa capacidade em vez de migrar para o local da Northrop em Palmdale, Califórnia, que atualmente está dedicado ao B-21.
A posição da Boeing é ainda fortalecida por sua recente vitória no contrato Next Generation Air Dominance (NGAD) da Força Aérea dos EUA, um programa de US$20 bilhões para desenvolver o caça de sexta geração F-47 que substituirá o F-22. Essa vitória sobre a Lockheed Martin dá à Boeing uma vantagem inicial em tecnologias avançadas de furtividade e sistemas de propulsão adaptativos que se espera serem aproveitados no esforço do F/A-XX da Marinha. Ainda assim, isso também levanta questões em Washington sobre superconsolidação, já que a Boeing controlaria ambas as linhas de caças tripulados de próxima geração caso também conquiste o contrato da Marinha.
Ao mesmo tempo, a greve trabalhista em curso na Boeing, em várias plantas de defesa, inclusive em St. Louis, também pode pesar contra ela. A paralisação afetou as entregas de aeronaves militares-chave e renovou preocupações sobre estouros de custo e atrasos de cronograma que têm afetado alguns de seus programas, incluindo o reabastecedor KC-46 e o treinador T-7A.
A decisão da Marinha dependerá de como ela equilibra risco, capacidade e política industrial. A Boeing oferece uma base de produção comprovada e menor risco. A Northrop oferece expertise em furtividade mais aprofundada e um salto tecnológico mais limpo.
Se a Marinha optar por continuidade e rapidez para disponibilizar um substituto antes da década de 2030, a Boeing poderia ter vantagem. Se priorizar furtividade e desempenho de longo alcance para contrariar as defesas aéreas mais avançadas da China, a Northrop pode prevalecer.
De qualquer forma, a escolha moldará a direção da aviação naval pelas próximas décadas.






