A França planeja expandir sua frota de caças Rafale em mais de 60 aeronaves no âmbito do projeto de lei orçamentária de 2026, podendo elevar o número total de aviões prontos para combate da Força Aérea e do Espaço e da Marinha Francesa para 286.
De acordo com o projeto de orçamento apresentado ao parlamento, a meta do programa “pode ser ajustada para garantir consistência com o formato da frota previsto na Lei de Programação Militar (LPM).” O aumento, confirmado em documentos orçamentários de apoio, representaria uma expansão significativa da capacidade de aviação de combate da França e reforçaria a meta de uma força “toda-Rafale” até 2035.
Até agora, as LPMs de 2019-2025 e 2024-2030 previam uma frota combinada de Rafale de 225 aeronaves até meados da década de 2030, incluindo 185 para a Força Aérea e do Espaço e 40 para a Marinha Francesa. A proposta de 2026 eleva esse número em 60 para serviço operacional.
Rumo a uma força “toda-Rafale” até 2035
A Força Aérea e do Espaço da França opera atualmente cerca de 100 jatos Rafale, 67 Mirage 2000D dos quais 55 serão modernizados no âmbito do programa RMV, e pouco menos de 30 Mirage 2000-5F, alguns dos quais serão transferidos para a Ucrânia.
No quadro da LPM vigente, a Força Aérea e do Espaço francesa deve ter 137 Rafale e 48 Mirage 2000D até 2030, fazendo a transição para uma frota totalmente composta por Rafale de 185 aeronaves até 2035. A Marinha, por sua vez, planeja operar 41 Rafale M até 2030 e 40 até 2035.
A nova meta de 286 aeronaves estenderia o papel do Rafale como principal caça multirole da França bem além da década de 2040, preenchendo a lacuna até o Sistema Aéreo de Combate Futuro (FCAS) franco-alemão-espanhol. Também garantiria que a Força Aérea e do Espaço disponha de números suficientes para cobrir compromissos operacionais e o treinamento de pilotos, áreas que ficaram pressionadas nos últimos anos devido a entregas para exportação.
Sucessos de exportação remodelam o planejamento doméstico
O planejamento da frota da França tem sido repetidamente ajustado para acomodar contratos de exportação do Rafale com Grécia, Croácia e outros. Entre 2021 e 2022, a Força Aérea e do Espaço transferiu 24 caças Rafale F3R para a Grécia e a Croácia a partir de seu próprio inventário para acelerar as entregas, reduzindo temporariamente o número de aeronaves disponíveis para treinamento e operações.
Nessa ocasião, o Chefe do Estado‑Maior da Defesa, general Thierry Burkhard, reconheceu que a Força Aérea acabaria com 117 Rafale em 2025, em vez dos 129 inicialmente planejados, até que aeronaves substitutas fossem entregues. O Subchefe do Estado‑Maior Frédéric Parisot alertou mais tarde que essa redução afetaria principalmente as horas de treinamento de pilotos, mas descreveu a situação como “aceitável” caso as entregas permanecessem no cronograma.
Um programa abrangendo os padrões F4 e F5
Os jatos Rafale a serem encomendados seriam entregues nos padrões F4 e F5, refletindo o roteiro de modernização em curso da Dassault Aviation.
Segundo o projeto de lei orçamentária de 2026, os principais compromissos do ano incluem a encomenda de dois caças Rafale para substituir aeronaves perdidas num acidente em agosto de 2024, a continuação das atualizações de simuladores e investimentos em gestão de configuração e aeronavegabilidade.
A configuração F4 introduziu conectividade aprimorada, capacidades de combate em rede e sensores melhorados. Em 2026, o financiamento apoiará a integração de novas capacidades de Supressão de Defesas Aéreas Inimigas (SEAD), o trabalho expandido de conectividade e investimentos técnicos nos centros de testes da DGA.
O padrão F5 entrará formalmente em sua fase de desenvolvimento, com previsão de entrada em serviço por volta de 2030. Projetado para reforçar a eficácia operacional, ele abrangerá combate aéreo avançado, operações em rede e missões de dissuasão nuclear. O orçamento de 2026 também prevê o desenvolvimento contínuo do programa UCAV, derivado do demonstrador nEUROn da Dassault, que atuará como um “loyal wingman” para o caça tripulado.
Juntos, o Rafale F5 e o UCAV devem formar a peça central do futuro sistema de combate homem‑não tripulado da França e operar com o ASN4G, um míssil ramjet hipersônico de próxima geração com capacidade nuclear que deverá tornar‑se o componente lançado pelo ar do dissuasor francês até 2035.
Documentos orçamentários também confirmam investimentos contínuos em infraestrutura nas bases de Saint‑Dizier, Mont‑de‑Marsan e Orange para a Força Aérea e do Espaço, assim como em Landivisiau para a Marinha Francesa, incluindo instalações para um novo esquadrão de caça.
Implicações industriais e políticas
A extensão potencial do pedido deve garantir a continuidade da produção até o início da década de 2040, sustentando milhares de empregos na base industrial de defesa da França. A Dassault Aviation lidera o programa Rafale, com a Safran fornecendo os motores, a Thales responsável pelo radar e pela optrônica, e a MBDA fornecendo armamentos e contramedidas.
A proposta seguirá agora para o Parlamento francês, onde os legisladores deverão debater se aprovam o financiamento para 60 caças adicionais em um momento em que a maioria dos outros ministérios do governo enfrenta cortes de gastos.
O projeto de lei orçamentária de 2026 sinaliza a intenção da França de reconstruir e expandir sua força de caças após anos de conciliar requisitos domésticos com o sucesso nas exportações, garantindo que, até meados da década de 2030, tanto a Força Aérea e do Espaço quanto a Marinha Francesa terão aeronaves suficientes para sustentar operações, treinamento e futura modernização.






