Uma das companhias aéreas mais interessantes da África — e do hemisfério sul como um todo — no momento é a TAAG Linhas Aéreas de Angola, a companhia aérea nacional de Angola.
Os seguidores do canal AeroTime no YouTube já tiveram um vislumbre do que essa companhia africana reenergizada está fazendo em uma entrevista com seu Diretor Comercial, Miguel Carneiro, durante a AviaDev Conference em junho de 2025.
AeroTime conversou novamente com Carneiro durante a 81ª Assembleia Geral Anual (AGM) da International Air Transport Association (IATA) em Délhi, Índia, onde ele compartilhou novos insights sobre o esforço multifacetado da TAAG para se tornar um provedor líder de conectividade dentro da África e entre a África e o resto do mundo.
Transformando a TAAG: cultura, marca e frota
Carneiro reiterou que o plano estratégico 2024–2029 da companhia centra-se em uma transformação abrangente, englobando cultura corporativa e branding, renovação da frota e crescimento da malha.
“Nossa visão decorre do plano estratégico que a TAAG está implementando para 2024–2029, por meio do qual buscamos posicionar a companhia como o player de referência para oferecer conectividade intra‑África”, explicou Carneiro.
Um fator chave é o novo Aeroporto Internacional Dr. António Agostinho Neto (NBJ), em Luanda, uma moderna instalação construída pela China que foi inaugurada em novembro de 2024. A TAAG concluiu a transferência total de suas operações para lá em setembro de 2025, estabelecendo a base para um modelo hub-and-spoke mais eficiente.
Construindo um hub regional em Luanda
“Estamos realmente tentando capitalizar nossa posição”, disse Carneiro. “A TAAG pretende ser um player muito forte na parte ocidental do continente, do Golfo da Guiné até a África do Sul. Podemos construir um hub muito eficiente em Luanda, conectando aproximadamente meio bilhão de passageiros dentro de um raio de voo de três horas.”
Atualmente, a TAAG atende Joanesburgo, Cidade do Cabo, Moçambique, Namíbia, República Democrática do Congo, Congo-Brazzaville e Nigéria. “Temos a segunda maior participação de mercado entre Cidade do Cabo e Lagos, com 37%. Voamos 10 vezes por semana para a Cidade do Cabo e cinco vezes para Lagos”, acrescentou Carneiro.
Ampliando o alcance intercontinental
As ambições da TAAG vão muito além do continente africano. “Também estamos nos expandindo por meio de uma estratégia intercontinental”, disse Carneiro. “Voamos para Lisboa duas vezes ao dia e quatro vezes por semana para São Paulo–Guarulhos, no Brasil.”
O Brasil, um país de língua portuguesa como Angola, desempenha um papel central nos planos de expansão da TAAG. “Estamos nos posicionando de forma muito agressiva no mercado sul‑americano, conectando-o à África”, continuou ele. A companhia já começou a operar seu primeiro Boeing 787 Dreamliner na rota Luanda–São Paulo.
A TAAG é uma das apenas quatro companhias que ligam diretamente o Brasil à África Subsaariana, ao lado da Ethiopian Airlines, South African Airways e LATAM. Em 2024, também aderiu à ALTA, a Associação de Transporte Aéreo da América Latina e Caribe, para aprofundar parcerias regionais com a GOL e a LATAM.
Olhando para o norte e leste
Lisboa é atualmente o único destino europeu da TAAG durante todo o ano, mas novas rotas estão no horizonte.
“Operamos voos duas vezes ao dia para Lisboa e voos sazonais para o Porto. Discutimos a retomada da rota para Madri e estamos analisando atentamente Londres e Paris”, disse Carneiro. “Também estamos explorando oportunidades no Extremo Oriente, particularmente Guangzhou, na China.”
Essas ligações de longo curso alimentarão a crescente malha africana da TAAG, concebida em torno de um sistema hub-and-spoke centrado em Luanda. “Estamos priorizando mercados de primeira linha e, posteriormente, cidades de segunda linha como Lubumbashi e Goma”, afirmou.
Uma frota moderna e eficiente
Para impulsionar esse crescimento, a TAAG está apostando em seus novos Airbus A220. Em outubro de 2025, três dos 15 A220-300 encomendados estavam em serviço, configurados com 137 assentos distribuídos em duas classes.
“É aí que o A220 se destaca”, disse Carneiro. “É econômico, confortável e os pilotos adoram seu desempenho.”
A companhia está migrando para uma frota simplificada de dois tipos: Airbus A220 para rotas de curta distância e Boeing 787 para operações de longo curso. “Estamos retirando os 777s”, confirmou Carneiro.
Embora os motores Pratt & Whitney do A220 tenham enfrentado problemas de confiabilidade em outros lugares, Carneiro disse que a TAAG permanece confiante: “Vamos monitorar o desempenho e decidir pela melhor opção a longo prazo.”
Transformação digital e experiência do passageiro
A TAAG também está focada em aprimorar sua experiência digital e a bordo.
“Nossas vendas digitais estavam na casa dos dígitos baixos. Redesenhamos nosso site com funcionalidades mais amigáveis e novas opções de pagamento”, disse Carneiro. “O objetivo é migrar gradualmente do GDS para vendas diretas, o que é mais eficiente e menos custoso.”
A bordo, a TAAG está repensando suas classes de cabine. “Costumávamos ter três classes — Primeira Classe, Classe Executiva e Econômica — e manteremos três, porém de forma diferente: Executiva, Premium Economy e Econômica”, explicou Carneiro, acrescentando que uma opção Premium Economy também poderia ser introduzida em aeronaves narrowbody.
A identidade de marca renovada da companhia, revelada em 2023, reflete esse novo espírito. “Trata‑se de manter as características históricas da TAAG ao mesmo tempo em que se dá a ela um visual mais fresco e jovem”, disse ele.
Novas rotas e ambições futuras
A TAAG planeja lançar novos destinos na África, incluindo Nairóbi, Abidjan, Acra e Libreville, enquanto aumenta as frequências para África do Sul, Nigéria e Moçambique.
Por enquanto, a adesão a uma aliança não está na pauta. “Não no curto prazo imediato”, disse Carneiro. “Ainda temos espaço para crescer de forma independente, mas manteremos as opções em aberto.”
Talvez o projeto mais ambicioso até agora seja o plano da TAAG de entrar no mercado dos EUA.
“Sim, estamos analisando isso, estamos em discussões com a nossa autoridade de aviação civil para que obtenham aprovações da FAA e do DOT. E obviamente, uma vez que isso seja feito, nós como companhia esperamos começar a voar para os EUA. Atualmente estamos avaliando diferentes possíveis pontos de entrada — Houston, Miami, Nova York. Estamos tentando ver qual funcionaria melhor, não especificamente só para Angola, mas para a região como um todo. Para que possamos alimentar o tráfego de países da região para Luanda e então conectar com os EUA. Imagine, por exemplo, África do Sul, Namíbia, Moçambique, RDC… poderíamos oferecer uma ótima opção para todos esses passageiros!” concluiu ele.






