Indústria e Tecnologia

Programa canadense do F-35A enfrenta nova incerteza sobre compra

O atrasado programa canadense de caças F-35A enfrenta nova incerteza, já que o governo do primeiro‑ministro Mark Carney avalia se prossegue com sua frota planejada de 88 aeronaves da Lockheed Martin ou se diversifica rumo a uma frota mista que poderia incluir o Gripen E da Saab.

O governo Liberal anunciou pela primeira vez em março de 2025 que iria “reexaminar” a compra, citando o aumento das tensões comerciais e diplomáticas com os Estados Unidos. A medida ocorreu quando o Canadá se aproximava de uma campanha eleitoral.

Após sua reeleição, Carney tem defendido maior “diversificação” nas parcerias de defesa e industriais de Ottawa. Essa posição foi reforçada por um novo marco de cooperação em defesa e comércio assinado com a União Europeia em junho de 2025.

Decisão ainda pendente

A saga canadense do F-35 remonta a julho de 2010, quando o governo conservador do então primeiro‑ministro Stephen Harper anunciou planos para comprar 65 F-35A por CAD 9 bilhões (US$ 6,5 bilhões), alegando que a aeronave era essencial para a defesa nacional e a soberania do Ártico.

A decisão gerou rapidamente controvérsia. Durante a eleição de 2015, o líder liberal Justin Trudeau prometeu cancelar o acordo de fonte única, acusando os conservadores de desviar a concorrência e de se comprometer com um “caça desnecessário e caro”. Após assumir, o governo de Trudeau confirmou que buscaria alternativas.

Essa promessa levou ao lançamento do Future Fighter Capability Project (FFCP) em 2017, uma competição aberta para substituir os CF-18. Vários fabricantes participaram inicialmente, incluindo a Boeing com o F/A-18 Super Hornet, a Dassault Aviation com o Rafale e a Airbus com o Eurofighter Typhoon.

A Dassault retirou‑se em 2018, citando preocupações de interoperabilidade e segurança ligadas à participação do Canadá na aliança de inteligência Five Eyes, enquanto a Airbus seguiu o mesmo caminho em 2019, alegando que os termos da competição favoreciam a Lockheed Martin. Em 2021, a proposta do Super Hornet da Boeing também foi desqualificada por razões não divulgadas.

Em 2022, o Departamento de Defesa Nacional selecionou o F-35A em vez do JAS 39 Gripen E/F da Saab, e Ottawa notificou formalmente um pedido inicial de 16 aeronaves em janeiro de 2023. Contudo, o restante da frota de 88 jatos permanece não confirmado.

Uma decisão final era inicialmente esperada até o final do verão, porém o gabinete de Carney não anunciou nenhum resultado. Embora a RCAF permaneça firmemente a favor do F-35, figuras‑chave do gabinete, incluindo a ministra da Indústria Mélanie Joly, levantaram preocupações quanto ao equilíbrio econômico do contrato.

Militares pedem urgência

Durante uma recente audiência parlamentar, a vice‑ministra da Defesa Nacional Stefanie Beck defendeu a aquisição do F-35, argumentando que capacidades de quinta geração são essenciais para manter a paridade com os adversários.

“É impossível subestimar a importância de possuir aeronaves de quinta geração, porque é isso que os nossos adversários têm”, disse Beck, apontando para o Su‑57 da Rússia e os caças J‑20 e J‑35 da China.

A comandante da RCAF, general Jamie Speiser‑Blanchet, ecoou esse alerta, observando que ambos os países empregam aeronaves avançadas e sistemas de mísseis de alta velocidade. “É urgente fazer a transição para uma nova frota de caças”, disse ela.

Pressões econômicas aumentam

Apesar do apoio militar, os custos crescentes do F-35 continuam controversos. Um relatório de 2024 do Office of the Auditor General of Canada (OAG) estimou que o custo total de aquisição aumentou pelo menos 46% desde 2022, alcançando CAD 27,7 bilhões (US$ 20 bilhões).

Desde então, Joly tem pressionado a Lockheed Martin para fornecer benefícios industriais adicionais, sob risco de ver o pedido reduzido.

“Ottawa poderia obter compromissos adicionais da Lockheed Martin em troca de manter o contrato de 88 caças”, disse Joly em uma entrevista em 12 de outubro de 2025. “Caso contrário, o governo poderia adquirir menos F-35s e complementá‑los com Gripen E montados no Canadá.”

Joly acrescentou que sua prioridade era garantir que o dinheiro dos contribuintes “reduza a dependência dos Estados Unidos e crie empregos no Canadá.”

Debate sobre uma frota mista

A proposta de dividir a aquisição entre o F-35 e o Gripen enfrenta forte resistência por parte de oficiais de defesa. Segundo um estudo citado pela Reuters em agosto de 2025, os militares alertaram que manter duas frotas de caças seria “ineficiente do ponto de vista operacional.”

Joly rejeitou essa visão, argumentando que “todos os países do G7 têm frotas mistas” e que o Canadá deveria adotar um modelo semelhante.

“Meu objetivo é obter mais valor industrial da Lockheed Martin, enquanto continuo as discussões com a Saab”, concluiu Joly.

Canadá e Suécia assinaram uma importante parceria aeroespacial e de defesa em agosto de 2025, com Ottawa e Estocolmo comprometendo‑se com pesquisa conjunta, desenvolvimento tecnológico e cooperação industrial. O acordo enfatizou a segurança do Ártico como prioridade compartilhada em meio ao aumento da atividade russa e realinhamentos de alianças no Alto Norte.

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