Indústria e Tecnologia

Força Aérea francesa estuda modernizar Mirage 2000D contra drones

A Força Aérea e do Espaço francesa (Armée de l’Air et de l’Espace, AAE) está a estudar novas atualizações para os seus caças-bombardeiros Mirage 2000D RMV, incluindo novas armas contra drones e melhorias de software para suportar aplicações de inteligência artificial. 

O Chefe do Estado-Maior, General Jérôme Bellanger, disse que o serviço está a tirar lições dos conflitos atuais, nomeadamente do uso em larga escala de munições loitering como o Shahed-136 na Ucrânia, para adaptar a sua frota existente às ameaças modernas. 

“O Mirage 2000D ainda não disse a sua última palavra,” disse Bellanger à revista Air Fan, conforme noticiado por Opex360. “Estamos a estudar opções que emergiram das nossas reflexões sobre os conflitos atuais, como a possibilidade de adaptar armas de baixo custo para lidar com a ameaça dos drones Shahed. Numa grande confrontação, é impensável consumir as nossas armas mais sofisticadas e dispendiosas para os destruir.” 

Entre as ideias em análise está dotar o Mirage 2000D com foguetes guiados a laser, como o Thales Aculeus-LG, o que permitiria aos pilotos engajar pequenos drones a uma fracção do custo de empregar mísseis ar-ar. O conceito já foi demonstrado pela Força Aérea dos EUA, que utilizou foguetes APKWS II de 70 mm a partir de F-16 para abater drones houthis sobre o Mar Vermelho no início deste ano. 

Possível retorno da integração do AASM 

O General Bellanger também confirmou que a AAE está a rever a possibilidade de integrar o AASM (Armement Air-Sol Modulaire) no Mirage 2000D, apesar de essa capacidade ter sido excluída da actual actualização RMV. Descreveu o AASM como “uma arma soberana extremamente eficaz” que continua a “dar total satisfação a todos os seus utilizadores.” 

O AASM, também conhecido como Hammer nos mercados de exportação, tem sido activamente utilizado pelas forças ucranianas desde o início de 2024, após a decisão de França de fornecer a arma para integração em aviões de ataque Su-24M de origem soviética e em caças Mirage 2000-5. As munições ofereceram à Ucrânia uma opção de ataque de precisão de longo alcance, alegadamente capaz de atingir alvos a até 70 quilómetros de distância, dependendo da variante. O seu emprego em combate forneceu a França um retorno operacional valioso sobre o desempenho da arma em ambientes contestados, particularmente contra sistemas russos de guerra electrónica e defesa aérea. 

Em paralelo, o serviço está a preparar actualizações de software adicionais para o Mirage 2000D RMV de forma a melhorar a análise de imagens em tempo real e as capacidades de aquisição de alvos. Bellanger observou que a capacidade de França de modificar o código do sistema de missão da aeronave poderá abrir caminho para funções iniciais de “IA de combate”, particularmente quando emparelhadas com o pod de marcação TALIOS. 

Uma aeronave de ataque modernizada 

O Mirage 2000D RMV [renovação de meia-vida, mid-life refurbishment – nota do editor] entrou oficialmente ao serviço operacional em abril de 2025. Cinquenta aeronaves são actualmente operadas pelo 3.º Esquadrão de Caça com base em Nancy-Ochey. 

O programa de modernização foi concebido para prolongar a vida útil do Mirage 2000D até meados da década de 2030, ao mesmo tempo que melhora a sua flexibilidade em missão. A aeronave pode agora transportar mísseis ar-ar MICA IR e um pod canhão CC422 de 30 mm, substituindo o antigo Magic II. Integra também o pod TALIOS para ataques de precisão e mantém o sistema de guerra electrónica ASTAC, usado para interceptar emissões de radar hostis. 

O standard RMV também introduziu um cockpit redesenhado e um computador de missão, oferecendo uma interface homem-máquina modernizada e melhor partilha de dados com outros activos. 

A Ucrânia moldou um caminho mais pragmático para uma frota totalmente Rafale?

Se aprovadas, as actualizações anti-drones, AASM e de IA poderiam dar ao Mirage 2000D RMV um perfil de missão renovado mesmo quando França avança para o seu objectivo de longo prazo de uma frota composta apenas por Rafale. Em 2023, o Presidente Emmanuel Macron anunciou que a Lei de Programação Militar 2024–2030 marcaria a transição da Força Aérea e do Espaço para uma frota apenas de Rafale. 

A decisão subsequente de França de transferir vários aparelhos Mirage 2000 para a Ucrânia conferiu desde então uma nova dimensão a essa transição. Embora os detalhes operacionais permaneçam limitados, acredita-se que as aeronaves estão a cumprir principalmente missões de defesa aérea e ataque ao solo, ajudando a Ucrânia a interceptar drones e mísseis de cruzeiro lançados contra as suas cidades. Para a AAE, este destacamento oferece uma oportunidade rara de observar como o Mirage se comporta num espaço aéreo altamente contestado perante ameaças emergentes. 

Essa experiência pode agora estar a informar a potencial transformação do Mirage 2000D numa plataforma concebida para caçar exactamente o tipo de drones que, em certa medida, estão a redefinir o combate aéreo moderno, numa altura em que as forças aéreas ocidentais enfrentam incursões russas recorrentes e procuram formas práticas e escaláveis de as contrariar. 

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