Aviação Militar

Certificação com dois Gripen E amplia capacidades e interoperabilidade aérea

A certificação, realizada com dois Gripen E da Força Aérea Brasileira, ampliará significativamente as capacidades do caça e oferecerá uma capacidade adicional às forças aéreas que operam ambos os tipos de aeronave.

Embraer, a Força Aérea Brasileira (Força Aérea Brasileira – FAB) e a Saab anunciaram em 14 de novembro de 2025 que certificaram o F-39 Gripen E (designação local do JAS39 Gripen E) para ser reabastecido pelo KC-390 Millennium após uma extensa campanha de testes. Este Gripen E, a versão mais avançada do Gripen, é atualmente operado pelo Brasil e pela Suécia, que recebeu seu primeiro aparelho em 20 de outubro de 2025.

A campanha de testes, denominada Operação Samaúma pela FAB, foi realizada em Gavião Peixoto, São Paulo, sede da unidade da Embraer e do Centro de Ensaios de Voo do Gripen. As imagens divulgadas mostram o KC-390 reabastecendo pelo menos dois F-39E da FAB, com os caças voando em diferentes configurações representativas para avaliar a aerodinâmica de ambas as aeronaves.

Um terceiro F-39 também é visto, que no vídeo opera como aeronave de escolta. Entretanto, como a campanha de testes ocorreu ao longo de vários dias, cada uma das aeronaves pode ter sido reabastecida com diferentes condições de carga.

A Embraer também divulgou imagens do KC-390 de propriedade da empresa usado na certificação de reabastecimento, que recebeu uma nova pintura, para participar do próximo Dubai Air Show. A aeronave agora exibe uma pintura digital em tons de cinza claro e cinza azulado.

Gripen E certificado para reabastecimento pelo KC-390

Extenas imagens de dentro das cabines dos F-39E, do console do operador do sistema de reabastecimento do KC-390 e do terceiro F-39E que possivelmente atuou como aeronave de escolta capturaram o sistema de reabastecimento por mangueira e míssil (drogue-and-hose) sob as asas do Millennium em várias fases de liberação, conexão e separação das sondas retráteis de reabastecimento no lado de bombordo dos caças.

Em um momento, o KC-390 reabastecia dois Gripen simultaneamente. A campanha de ensaios em voo ocorreu entre outubro e novembro, com estudos em andamento há um ano, disse a FAB. Os dados aerodinâmicos e de engenharia serão usados para produção futura e desenvolvimento pelas respectivas autoridades de ensaios de voo e certificação.

O comunicado conjunto da Embraer e da Saab acrescentou que a “campanha foi coordenada pelo Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) da FAB”, com a participação de engenheiros e pilotos de ensaio das três entidades (Saab, Embraer e FAB). “Durante os testes, uma variedade de configurações de voo, velocidades e altitudes foram avaliadas e confirmaram precisão durante o reabastecimento em voo. Os sistemas fly-by-wire de última geração de ambas as aeronaves contribuíram para a operação bem-sucedida, com o KC-390 proporcionando um vórtice favorável e o Gripen demonstrando resposta em voo”, disse a Embraer.

Captura de tela de um dos Gripen E brasileiros conectando-se à mangueira de reabastecimento do KC-390.

A campanha de ensaios em voo consistiu em dois objetivos. O primeiro foi “qualificar o Gripen E como receptor para reabastecimento em voo”, portanto “validando o desempenho, a estabilidade e a integridade estrutural do caça durante a operação.” O segundo objetivo foi “verificar a compatibilidade das duas aeronaves ao longo de todo o envelope de voo do KC-390”, para reabastecimento em alta velocidade, durante o dia e à noite.

O diretor de operações da Embraer Defesa & Segurança, Walter Pinto Júnior, afirmou no comunicado que os testes demonstram a “capacidade única multi-missão” do KC-390 Millennium, que “permite que o avião seja convertido em um reabastecedor em questão de horas, oferecendo flexibilidade incomparável às Forças Aéreas mundialmente.”

O chefe de Ensaios de Voo da Saab, Mikael Olsson, disse que o marco técnico representa um novo alcance operacional para o Gripen E e “reforça a parceria estratégica entre Brasil e Suécia e o papel do Brasil no ecossistema global do programa Gripen.”

Captura de tela do vídeo da Embraer mostrando a filmagem do console do operador da mangueira de reabastecimento, mostrando a conexão simultânea e o reabastecimento com dois F-39 Gripen E.

“A verificação do reabastecimento em voo entre o KC-390 e o F-39 Gripen […] é o resultado de um esforço conjunto que combina tecnologia sueca, engenharia brasileira e a excelência operacional da Força Aérea Brasileira”, disse o Coronel Aviador da FAB George Luiz Guedes de Oliveira.

A Autoridade Sueca de Aviação Militar (SE-MAA) e o Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI) da FAB usarão os dados para seus próprios processos de certificação e análise técnica, “garantindo que ambas as aeronaves cumpram os padrões internacionais mais exigentes.”

Reforça a capacidade da Força Aérea Brasileira

A FAB ressaltou como o reabastecimento reflete a credível tecnologia aeroespacial de origem brasileira e a maturidade do KC-390 como cargueiro-tanque em conformidade com padrões internacionais. “Com o apoio da aeronave KC-390 Millennium, o Gripen pode, com apenas um reabastecimento, alcançar qualquer ponto do território brasileiro em poucas horas, incluindo regiões de fronteira distantes, aproximadamente 3.000 quilômetros de Anápolis (GO), onde se localiza a Base Aérea de Anápolis (BAAN), sede dos Gripen,” disse a FAB.

A interface mostrando a operação das mangueiras de reabastecimento e a transferência de combustível.

O serviço citou casos de uso como Patrulhas Aéreas de Combate (Combat Air Patrols) e Operações Aéreas Compostas (COMAO), nas quais o Gripen protege aeronaves amigas que realizam “reconhecimento, ataques ao solo, lançamentos de paraquedistas e infiltrações de tropas, por exemplo”, ocasiões em que o reabastecimento aéreo seria útil.

Os Gripen operaram com diferentes configurações de carga com mísseis, bombas e tanques externos, e cada perfil foi “avaliado em várias altitudes e velocidades para verificar o comportamento da aeronave e a estabilidade dos sistemas.” Isso inclui sistemas de transferência de combustível, sensores de pressão, controles de voo automáticos, sensores de posição, válvulas de segurança e procedimentos de emergência, onde qualquer “incompatibilidade pode resultar em colisão, vazamento de combustível ou perda de controle.”

Operadores do Gripen e do C-390

Na Europa, o Gripen pode ser reabastecido por A400M e A330 MRTT de várias forças aéreas europeias e da OTAN. O KC-390, a versão reabastecedora do cargueiro C-390 Millennium que, segundo a Embraer, pode ser convertido em questão de horas, acrescenta mais uma capacidade de reabastecimento aéreo.

Um Gripen E decola com uma carga de ensaio composta por três tanques de combustível, bombas ar-superfície e mísseis ar-ar IRIST-T.

Isso é especialmente importante já que Suécia, República Tcheca e Lituânia também são clientes futuros do C-390 brasileiro, enquanto a Hungria já opera tanto o Gripen quanto o C-390. A certificação de reabastecimento oferece às suas forças aéreas uma capacidade orgânica de reabastecedor aéreo. Portugal também opera o C-390, enquanto Países Baixos, Eslováquia e Áustria aguardam seus próprios Millenniums.

Saab Gripen E e o Brasil

A Tailândia tornou-se recentemente a quarta nação a escolher oficialmente a nova variante do Gripen com 12 jatos, após Suécia, Brasil e Colômbia. A Suécia encomendou 60 jatos, seguida por 36 para o Brasil e até 24 para a Colômbia. O Peru também está em negociação para adquirir o caça.

Como disse a FAB: “A qualificação como receptor é um passo fundamental para a futura certificação do Gripen com outras aeronaves reabastecedoras, considerando que cada tanque requer certificação específica em pares.”

O acordo do Brasil de 2014 no valor de US$ 4,5 bilhões para 36 aeronaves incluiu 28 F-39E e oito F-39F. Quinze dos caças serão fabricados no Brasil, nas instalações da Embraer e da Saab. Isso inclui a linha final de produção e montagem da primeira empresa em Gavião Peixoto, em São Paulo.

Outro Gripen E decola com uma carga mais leve.

A instalação da Saab em São Bernardo do Campo produz as aerostruturas, incluindo o cone de cauda, freios aerodinâmicos e parte dianteira da fuselagem. A FAB recebeu a décima aeronave em 12 de junho de 2025, a bordo de um navio, que está programada para integrar o Primeiro Grupo de Defesa Aérea (1º GDA) “Esquadrão Jaguar” em Anápolis, conforme reportagens brasileiras.

Quanto aos KC-390, a FAB opera atualmente um total de sete aeronaves, com a última entregue ao 1º Grupo de Transporte na Base Aérea do Galeão em setembro de 2024. A Força aguarda mais 12, totalizando um pedido de 19 aeronaves, que a Embraer disse que concluiria até 2034.

Shares:

Related Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *