Júri fixa indenização de US$ 28 milhões em processo relacionado aos acidentes do 737 MAX que mataram 346 pessoas
Um júri federal em Chicago determinou que a Boeing pague cerca de US$ 28 milhões à família de Shikha Garg, consultora das Nações Unidas que morreu no acidente do voo ET302 da Ethiopian Airlines em 2019. Esse foi o primeiro julgamento civil nos Estados Unidos ligado aos dois desastres envolvendo o 737 MAX.
A decisão ocorreu depois que a Boeing reconheceu sua responsabilidade pelo acidente, restando ao júri apenas estabelecer o valor da indenização. O veredito, divulgado na última quarta-feira (12), marca a primeira sentença nos EUA referente aos acidentes que provocaram 346 mortes.
O acidente com o ET302
O Boeing 737 MAX 8 partiu de Addis Ababa, na Etiópia, com destino a Nairóbi, no Quênia, em 10 de março de 2019, e caiu poucos minutos após a decolagem, a cerca de 60 km da capital etíope. Todos os 157 ocupantes — de mais de trinta nacionalidades — morreram.
A tragédia ocorreu apenas cinco meses depois do acidente do voo JT610, da Lion Air, na Indonésia, envolvendo o mesmo modelo, o que levou à suspensão global das operações do 737 MAX por vinte meses.
Investigações apontaram que os pilotos do voo 302 combateram por cerca de seis minutos o sistema MCAS (Maneuvering Characteristics Augmentation System), que empurrava o nariz da aeronave para baixo com base em leituras equivocadas de sensores.
Registros internos exibidos no processo mostram que a Boeing teria minimizado os riscos associados ao MCAS durante a certificação e não oferecido treinamento adequado aos tripulantes. O relatório técnico indica que a aeronave atingiu o solo a mais de 1.100 km/h.
Consequências jurídicas e precedentes
Analistas jurídicos ouvidos pela imprensa norte-americana avaliam que a decisão — uma das maiores indenizações por morte em acidente aéreo — pode influenciar centenas de ações ainda pendentes contra a Boeing.
Embora a fabricante já tenha desembolsado mais de US$ 2,5 bilhões (R$ 13,2 bilhões) em acordos e penalidades, incluindo US$ 243,6 milhões ao Departamento de Justiça (DOJ) em 2021, a maior parte dos processos foi resolvida em sigilo.
No caso de Garg, as negociações foram interrompidas e o caso seguiu a julgamento. Em acordo separado, seu marido já havia recebido US$ 3,4 milhões (R$ 17,9 milhões) em indenização confidencial antes do veredito do júri.
O veredito coincidiu com outra deliberação judicial: um tribunal federal no Texas encerrou o processo por fraude movido pelo Departamento de Justiça dos EUA contra a Boeing, citando o cumprimento de um acordo de acusação diferida firmado em 2021.
Familiares das vítimas criticaram a decisão, afirmando que ela deixa a fabricante sem a responsabilização plena pelos acidentes.






