A sueca Saab está considerando o Canadá como um possível local de montagem para seus caças Gripen E, enquanto busca expandir a capacidade de produção diante do aumento da demanda internacional, inclusive da Ucrânia.
Em 22 de outubro de 2025, o primeiro‑ministro sueco Ulf Kristersson e o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy assinaram em Linköping uma carta de intenções relativa a uma possível venda de mais de 100 caças Saab JAS 39 Gripen E. Embora nenhum pedido tenha sido finalizado até o momento, Zelenskyy delineou planos para uma futura frota de combate de aproximadamente 250 aeronaves, incluindo caças F‑16, Gripen e Rafale.
Projetado para rápido retorno à operação e para bases dispersas, o design robusto do Gripen e suas reduzidas exigências de manutenção o tornam bem adequado às condições operacionais de guerra na Ucrânia.
Vadym Voroshylov, um piloto ucraniano de MiG‑29 conhecido pelo indicativo “Karaya” e nomeado Herói da Ucrânia em 2022, descreveu o Gripen como “projetado para as realidades da Ucrânia,” elogiando sua resistência, rápido tempo de rearmamento, compatibilidade com armamentos ocidentais e custos operacionais relativamente baixos.
Expansão da capacidade de produção
Após o anúncio, o CEO da Saab, Micael Johansson, disse ao Financial Times que a empresa está “avaliando formas de aumentar rapidamente a produção”, observando que o pedido potencial da Ucrânia dobraria as necessidades atuais de produção da Saab e poderia levar à criação de novas linhas de montagem no Canadá, na Ucrânia ou em outras partes da Europa.
A Saab já monta caças Gripen na Suécia e no Brasil, onde a Embraer gere a produção local. Uma linha de produção no Canadá representaria a primeira presença industrial da Saab na América do Norte.
Saab e Bombardier em negociações
A Bombardier confirmou discussões em curso com a Saab sobre a localização da produção do Gripen no Canadá como parte de seus planos de expansão.
“A Bombardier está aberta a fornecer expertise local caso o Governo do Canadá decida seguir por esse caminho”, disse Mark Masluch, diretor sênior de comunicações da empresa, ao The Globe and Mail. Uma fonte sênior do governo canadense acrescentou que uma joint venture entre a Saab e a Bombardier está sendo considerada.
A montagem potencial poderia ocorrer nas instalações da Bombardier em Toronto Pearson ou Dorval, Quebec, ou em um novo local se os volumes de produção justificarem.
A Saab e a Bombardier já colaboram na aeronave AEW&C GlobalEye, uma plataforma baseada no jato executivo Global 6000/6500 da Bombardier e equipada com o radar Erieye da Saab.

Reforçando os laços industriais Canadá–Suécia
As negociações se baseiam na parceria estratégica aeroespacial e de defesa Canadá–Suécia lançada em agosto de 2025, que visa aprofundar a cooperação em inovação industrial e segurança no Ártico. Durante uma visita à Suécia, a ministra da Indústria Mélanie Joly afirmou que o Canadá está comprometido em trabalhar “com aliados de confiança para diversificar cadeias de suprimentos e fornecer as tecnologias avançadas e a expertise que o mundo precisa”.
Falando novamente à margem do Canadian Aerospace Summit em Ottawa em 29 de outubro de 2025, Joly descreveu a potencial expansão da Saab como “uma boa notícia” e confirmou que havia se reunido com Micael Johansson mais cedo no dia.
“Tenho trabalhado ativamente com a Saab para ver o que pode ser feito para desenvolver mais parcerias com o Canadá, incluindo com o programa GlobalEye, mas também estamos dispostos a considerar como podemos apoiar a Ucrânia”, disse Joly.
A ministra acrescentou que o Canadá e a Suécia compartilham uma visão comum sobre a segurança europeia e a Ucrânia, e que suas indústrias aeroespaciais são parceiras naturais.
“Por isso acredito que existe uma excelente parceria entre o Canadá e a Suécia que podemos fortalecer”, concluiu Joly.
O Canadá reavalia seu acordo F-35
A revisão em andamento pelo Canadá do pedido de 88 F‑35A Lightning II à Lockheed Martin pode abrir espaço para a proposta da Saab. Ottawa adiou a confirmação final do contrato dos F‑35 diante de preocupações sobre a escalada de custos e o retorno industrial limitado.
O primeiro‑ministro Mark Carney lançou a revisão no início de 2025, citando a necessidade de diversificar os fornecedores de defesa em meio a tensões comerciais com os Estados Unidos. Vários funcionários canadenses desde então sugeriram que o Canadá poderia adotar uma frota mista, combinando F‑35s e Gripens para equilibrar soberania, custo e benefícios industriais.
O embaixador dos EUA, Pete Hoekstra, advertiu que manter dois tipos de caças seria “extremamente caro” para o Canadá. The Ottawa Citizen informou que a administração dos EUA alertou sobre “sérias consequências” caso o Canadá decidisse revisar o acordo.






